Do arcabouço discursivo à performance corporificada
o conceito de vulnerabilidades em processos de participação democrática
DOI:
https://doi.org/10.31990/agenda.2022.3.1Palavras-chave:
Vulnerabilidades, Movimentos Sociais, Participação Cidadã, Inovação Democrática, Etnografia PolíticaResumo
O artigo argumenta sobre o potencial heurístico e crítico do conceito de vulnerabilidades para pesquisas sobre participação cidadã, movimentos sociais e lutas por reconhecimento. Pela ótica das vulnerabilidades, a ação social do sujeito político se dá sempre apesar e a partir das vulnerabilidades existenciais e sociopolíticas que enfrenta em seu cotidiano. Nesse sentido, ao tratar dicotomias clássicas como agência e padecimento, vitimização e resistência, o conceito de vulnerabilidades nos habilita a compreender como situações de adversidade e precaridade social atravessam processos de participação política: a) introduzindo diferença na motivação e agenda política de um movimento social; b) compondo obstáculos e oportunidades para a ação coletiva; c) sendo reconfiguradas pelo próprio processo de participação cidadã. Sob certas condições, vulnerabilidades, embora originalmente vistas como percalços, podem atuar como vetores de resistência e empoderamento social. Para além de uma reflexão teórica e metodológica, o artigo apresenta resultados de aplicação empírica do conceito de vulnerabilidades sobre etnografia política que mapeou desafios e inovações democráticas promovidas pelo movimento social antimanicomial de Belo Horizonte no processo de construção e performance do protesto “dia de luta antimanicomial”.
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