Religião, Sexo e Cor/Raça

nuances do efeito da identidade evangélica sobre o voto em Bolsonaro em 2018

Autores

  • Matheus Gomes Mendonça Ferreira UFMG

DOI:

https://doi.org/10.31990/agenda.2022.3.7

Palavras-chave:

Religião, Eleição, Identidade

Resumo

O objetivo do artigo é examinar a interação entre religião, sexo e cor/raça num modelo que investiga o voto em Bolsonaro. Almeja-se compreender o que acontece com o efeito da identidade evangélica quando se considera outras características sociais do eleitor, que foram identificadas como variáveis negativamente associadas ao voto em Bolsonaro. Utilizando dados do ESEB 2018, a escolha dessas variáveis foi orientada tanto pela literatura sobre efeitos heterogêneos, quanto pelo contexto eleitoral de 2018. Os resultados do trabalho, alcançados por meio de regressões logísticas binomiais (glm), rejeitam a hipótese de que a identidade evangélica blinda o fiel das influências que vem de outras fontes sociais, como sexo e cor. Conclui-se que entre as evangélicas pretas houve a menor probabilidade de votar em Bolsonaro em 2018. Como os modelos controlam pelo efeito de variáveis econômicas, uma das explicações para o resultado apontado é que há mecanismos relacionados à cor e ao sexo (identidade de gênero e raça) dos fiéis que mitigam o voto naquele candidato.

Biografia do Autor

Matheus Gomes Mendonça Ferreira, UFMG

Doutor em Ciência Política pela UFMG e pesquisador do Centro de Estudos do Comportamento Político (CECOMP – UFMG). Email: ferreira.dcp@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3037-9309.

Referências

ABRAMOWITZ, A. I.; SAUNDERS, K. L. Is polarization a myth?. The Journal of Politics, v. 70, n. 2, p. 542-555, 2008.

ANSOLABEHERE, S.; HERSH, E. Gender, race, age, and voting: A research note. In: APSA 2011 Annual Meeting Paper. 2011.

ALMEIDA, R. de. Bolsonaro presidente: conservadorismo, evangelismo e a crise brasileira. Novos estudos CEBRAP, v. 38, p. 185-213, 2019.

AMARAL, O. E. do. The victory of Jair Bolsonaro according to the brazilian electoral study of 2018. Brazilian Political Science Review, v. 14, 2020.

BACHI, L. R. G. O processo de identificação da mulher com o discurso político de Jair Bolsonaro no Facebook. Revista Interdisciplinar em Estudos de Linguagem, v. 2, n. 2, 2020.

BOAS T.; SMITH A. E. Religion and the Latin American voter. The Latin American Voter. 2015, p. 99-121. In: PÉREZ, Orlando J. et al. The Latin American Voter: Pursuing Representation and Accountability in Challenging Contexts. 2015.

BOHN, S. R. Evangélicos no Brasil: perfil socioeconômico, afinidades ideológicas e determinantes do comportamento eleitoral. Opinião pública, v. 10, p. 288-338, 2004.

BRAMBOR, T.; CLARK, W. R; GOLDER, M. Understanding interaction models: Improving empirical analyses. Political analysis, v. 14, n. 1, p. 63-82, 2006.

CAMARGO, C. F. et al. Perfil socioeconômico dos beneficiários do programa Bolsa Família. IPEA. Programa Bolsa Família: uma década de inclusão e cidadania. Brasília: Governo Federal, 2013.

CAMPBELL, A. et al. The american voter. University of Chicago Press, 1980.

CONOVER, P. J. The influence of group identifications on political perception and evaluation. The Journal of Politics, v. 46, n. 3, p. 760-785, 1984.

DEALMEIDA, M. H. T.; GUARNIERI, F. H. The unlikely president. REVISTA EUROLATINOAMERICANA DE ANÁLISIS SOCIAL Y POLÍTICO, v. 1, n. 1, p. 139-159, 2020.

DECANIO, S. Religion and nineteenth-century voting behavior: a new look at some old data. The Journal of Politics, v. 69, n. 2, p. 339-350, 2007.

DIX, R. H. Cleavage structures and party systems in Latin America. Comparative politics, v. 22, n. 1, p. 23-37, 1989.

DJUPE, P. A.; GILBERT, C. P. The political influence of churches. Cambridge University Press, 2008.

ESAREY, J.; SUMNER, J. L. Marginal effects in interaction models: Determining and controlling the false positive rate. Comparative Political Studies, v. 51, n. 9, p. 1144-1176, 2018.

ESEB 2018 (2018) Survey Eleitoral Brasileiro 2018. Disponível em: <http://www.cesop.unicamp.br> Acessado em 14 de novembro de 2019.

FERREIRA, M. G. M.; FUKS, M. O hábito de frequentar cultos como mecanismo de mobilização eleitoral: o voto evangélico em Bolsonaro em 20183. Revista Brasileira de Ciência Política, 2021.

FIGUEIREDO, M. F. A decisão do voto-democracia e racionalidade. Editora UFMG, 2008.

GIMENES, É. R. et al. Partidarismo no Brasil: Análise longitudinal dos condicionantes da identificação partidária (2002-2014). Revista Debates, v. 10, n. 2, p. 121-148, 2016.

GUEDES-NETO, J. V. Voto e identificação partidária em 2018: ordenação social na política brasileira. Opinião Pública, v. 26, p. 431-451, 2021.

HAINMUELLER, J.; MUMMOLO, J.; XU, Y. How much should we trust estimates from multiplicative interaction models? Simple tools to improve empirical practice. Political Analysis, v. 27, n. 2, p. 163-192, 2019.

HOLZHACKER, D. O.; BALBACHEVSKY, E. Classe ideologia e política: uma interpretação dos resultados das eleições de 2002 e 2006. Opinião Pública, v. 13, p. 283-306, 2007.

LAYMAN, G. C. Religion and political behavior in the United States: The impact of beliefs, affiliations, and commitment from 1980 to 1994. Public Opinion Quarterly, p. 288-316, 1997.

LAYTON, M. L. et al. Demographic polarization and the rise of the far right: Brazil’s 2018 presidential election. Research & Politics, v. 8, n. 1, p. 2053168021990204, 2021.

LAZARSFELD, P. F.; BERELSON, B.; GAUDET, H. The people’s choice. Columbia University Press, 1968.

LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo, no Brasil. São Paulo: Alfa. Omega, 1975.

LIPSET, S. M.; ROKKAN, S. Cleavage structures, party systems, and voter alignments: an introduction. Free Press, 1967.

MAINWARING, S.; TORCAL, M.; SOMMA, N. M. The left and the mobilization of class voting in Latin America. The Latin American voter: Pursuing representation and accountability in challenging contexts, p. 69-98, 2015.

MATOS, M.; PINHEIRO, M. B. Dilemas do conservadorismo político e do tradicionalismo de gênero no processo eleitoral de 2010: o eleitorado brasileiro e suas percepções. Mulheres nas eleições, p. 47-89, 2010.

MCLAUGHLIN, B.; WISE, D. Cueing God: Religious cues and voter support. Politics and Religion, v. 7, n. 2, p. 366-394, 2014.

MUTZ, Diana C. Hearing the other side: Deliberative versus participatory democracy. Cambridge University Press, 2006.

NICOLAU, J. Determinantes do voto no primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras de 2010: uma análise exploratória. Opinião Pública, v. 20, p. 311-325, 2014.

NICOLAU, J. O Brasil dobrou à direita: uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2020.

OLIVEIRA, C; TURGEON, M. Ideologia e comportamento político no eleitorado brasileiro. Opinião Pública, Campinas, v. 21, n. 3, p. 574-600, 2015.

ORO, A. P. Neopentecostais e afro-brasileiros: quem vencerá esta guerra?. Debates do NER, v. 1, n. 1, 1997.

PEIXOTO, V.; RENNÓ, L. Mobilidade social ascendente e voto: as eleições presidenciais de 2010 no Brasil. Opinião Pública, v. 17, n. 2, p. 304-332, 2011.

RAYMOND, C. D. Electoral choice and religion: an overview. Oxford Research Encyclopedia of Politics, 2018.

REINA, M. L. Pentecostalismo e questão racial no Brasil: desafios e possibilidades do ser negro na igreja evangélica. Plural, v. 24, n. 2, p. 253-275, 2017.

RENNÓ, L. R. The Bolsonaro voter: Issue positions and vote choice in the 2018 Brazilian presidential elections. Latin American Politics and Society, v. 62, n. 4, p. 1-23, 2020.

ROSAS, N. As obras sociais da Igreja Universal: uma análise sociológica. Fino Traço Editora, 2014.

SAMUELS, D. J.; ZUCCO, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. Cambridge University Press, 2018.

SANTOS, A. M. dos. Identidade negra e neopentecostalismo: o caso Reginaldo Germano. Anais dos Simpósios da ABHR, v. 13, 2012.

SANTOS, J. A. F. A interação estrutural entre a desigualdade de raça e de gênero no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 24, p. 37-60, 2009.

SILVA, V. A. A. A religião distrai os pobres? Pentecostalismo e voto redistributivo no Brasil. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2019.

SINGER, A. Raízes sociais e ideológicas do lulismo. Novos estudos CEBRAP, p. 83-102, 2009.

SMITH, A. E. Religion and Brazilian democracy: mobilizing the people of God. Cambridge University Press, 2019.

SOARES, G. A. D. The Brazilian political system: New parties and old cleavages. Luso-Brazilian Review, p. 39-66, 1982.

SOARES, G. A. D.; SILVA, N. do V. Urbanization, race, and class in Brazilian politics. Latin American Research Review, p. 155-176, 1987.

TORCAL, M.; MAINWARING, S. The Political Re-crafting of Social Bases of Party Competition: The Case of Chile 1973-1995. British Journal of Political Science, v. 33, n. 1, p. 55-84, 2003.

VALENZUELA, A. A.; MICHELSON, M. R. Turnout, status, and identity: Mobilizing Latinos to vote with group appeals. American Political Science Review, v. 110, n. 4, p. 615-630, 2016.

WILCOX, C.; SIGELMAN, L. Political mobilization in the pews: Religious contacting and electoral turnout. Social Science Quarterly, v. 82, n. 3, p. 524-535, 2001.

WOOLDRIDGE, J. M. Introdução à econometria: uma abordagem moderna. Pioneira Thomson Learning, 2006.

ZINGHER, J. N. How Social Group Memberships Interact to Shape Partisanship, Policy Orientations, and Vote Choice. Political Behavior, p. 1-19, 2021.

ZUCCO JR, C. Esquerda, direita e governo. In: O Congresso por ele mesmo: autopercepções da classe política brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG. 2011.

Downloads

Publicado

2023-08-22

Como Citar

GOMES MENDONÇA FERREIRA, M. Religião, Sexo e Cor/Raça: nuances do efeito da identidade evangélica sobre o voto em Bolsonaro em 2018. Revista Agenda Política, [S. l.], v. 10, n. 3, p. 165–191, 2023. DOI: 10.31990/agenda.2022.3.7. Disponível em: https://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/799. Acesso em: 27 jul. 2024.