A mobilização de questões de gênero e sexualidade e o fortalecimento da direita no Brasil

Autores

  • Rayani Mariano dos Santos

DOI:

https://doi.org/10.31990/agenda.2020.1.2

Resumo

O artigo analisa como discursos e ações contrários aos direitos das mulheres e de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros (LGBT) contribuíram para o fortalecimento da extrema direita no Brasil. A contextualização das disputas relativas a gênero e sexualidade no país nas últimas décadas indica que essas questões estiveram no centro da política brasileira em diferentes momentos, como nas eleições de 2010; na ofensiva religiosa na Câmara dos Deputados contra o chamado “kit gay” em 2011; na articulação para a retirada das palavras “gênero” e “orientação sexual” do Plano Nacional de Educação em 2014; na misoginia presente no processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff etc. Nesses momentos, atores políticos conservadores venceram as disputas e se fortaleceram no campo político. A ofensiva conservadora-religiosa teve o protagonismo de políticos evangélicos e católicos, entre eles o atual presidente Jair Bolsonaro, que se aproveitou de algumas questões polêmicas para impulsionar sua carreira política.

Referências

ALMEIDA, R. (2018) “Deuses do parlamento: os impedimentos de Dilma”. In: ALMEIDA, R.; TONIOL, R. (Org.). Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos: análises conjunturais. Campinas: Editora da Unicamp.

ALMEIDA, R. (2019) “Bolsonaro presidente: conservadorismo, evangelismo e a crise brasileira”. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 185-213.

ALVES, J. E. D. (2018) O voto evangélico garantiu a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Blog IHU. 2 nov. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/584304-o-voto-evangelico-garantiu-a-eleicao-de-jair-bolsonaro>. Acesso em: 20 abr. 2018.

BIROLI, F. (2016) “Political violence agaisnt women in Brazil: expressions and definitions”. Direito e Práxis, v. 7, n. 15, p. 557-589.

BIROLI, F. (2017) “O fim da Nova República e o casamento infeliz entre neoliberalismo e conservadorismo moral”. In: BUENO, W. et al (Org.). Tem saída? Ensaios críticos sobre o Brasil. Porto Alegre: Zouk.

BIROLI, F. (2018) “Reação conservadora, democracia e conhecimento”. Revista Antropologia, v. 61 n. 1, p. 83-94.

BIROLI, F. (2019) “Democracy, family, and the backlash against gender in Latin America”. Conferencia Internacional. Feminismos y conservadorismos en América Latina. FLACSO. México.

BROWN, W. (2019) Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no Ocidente. São Paulo: Editora Filosófica Politeia, 2019.

CANOFRE, F. (2019). Damares anuncia canal de denúncias para questões contra moral, religião e ética nas escolas. Folha de São Paulo. 19 nov. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/11/damares-anuncia-canal-de-denuncias-para-questoes-contra-moral-religiao-e-etica-nas-escolas.shtml>. Acesso em: 23 jan. 2020.

CARAM, B. (2019). Moro e Guedes têm alta aprovação entre ricos e baixa entre pobres, diz Datafolha. Folha de São Paulo, 9 dez. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/12/moro-e-guedes-tem-alta-aprovacao-entre-ricos-e-baixa-entre-pobres-diz-datafolha.shtml>. Acesso em: 24 jan. 2020.

CAVALCANTE, S. (2015) “Classe média e conservadorismo liberal” In: VELASCO, Sebastião; KAYSEL, André; CODAS, Gustavo. (Org.) Direita, volver! O retorno da direita e o ciclo político brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.

CHALOUB, J.; PERLATTO, F. (2016) “A nova direita brasileira: ideias, retórica e prática política”. Insight Inteligência, n. 72.

CODATO, A.; BERLATTO, F.; BOLOGNESI, B. (2018) “Tipologia dos políticos de direita no Brasil: uma classificação empírica”. Análise Social, n. 229, p. 870-897.

COPPEDGE, M. (1997) “A Classification of Latin American Political Parties”. Working Paper. The Helen Kellogg Institute for International Studies.

CRISTINA, F. (2002). “Lula ganha apoio de pastores evangélicos no Rio”. Folha de São Paulo, 10 Out. 2002. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2002/10/17/ult27u27501.jhtm>. Acesso em: 29 set. 2019.

CRUZ, S. V. (2015) “Elementos de reflexão sobre o tema da direita (e esquerda) a partir do Brasil no momento atual”. In: VELASCO, S.;

KAYSEL, A.; CODAS, G. (Org.). Direita, volver! O retorno da direita e o ciclo político brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.

CUNHA, C. V.; LOPES, P. V. L.; LUI, J. (2017) Religião e Política: medos sociais, extremismo religioso e as eleições 2014. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll.

DATAFOLHA. (2016) Perfil e opinião dos evangélicos no Brasil – total da amostra. 7 dez. 2016 e 8 dez. 2016.

DIAP. (2002) Radiografia do Novo Congresso: Legislatura 2003-2007. Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Brasília, DF: DIAP.

DIAP. (2006) Radiografia do Novo Congresso: Legislatura 2007-2011. Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Brasília, DF: DIAP.

DIAP. (2010) Radiografia do Novo Congresso: Legislatura 2011-2015. Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Brasília, DF: DIAP.

DIAP. (2014) Radiografia do Novo Congresso: Legislatura 2015-2019. Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Brasília, DF: DIAP.

DIAP. (2018) Radiografia do Novo Congresso: Legislatura 2019-2023. Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Brasília, DF: DIAP.

ÉBOLI, E. (2011). “Bolsonaro diz que se eleição fosse hoje teria meio milhão de votos”. O Globo. 6 abr. 2011. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/politica/bolsonaro-diz-que-se-eleicao-fosse-hoje-teria-meio-milhao-de-votos-2800165>. Acesso em: 26 abr. 2019.

FOLHA DE SÃO PAULO. (2013) “Popularidade de Dilma cai 27 pontos após protestos”. 29 jun. 2013. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/06/1303541-popularidade-de-dilma-cai-27-pontos-apos-protestos.shtml>. Acesso em: 12 abr. 2020.

GRZEBALSKA, W.; KOVÁTS, E.; PETŐ, A. (2017) “Gender as symbolic glue: how ‘gender’ became an umbrella term for the rejection of the (neo) liberal order”. Political critique, 13 jan. 2017. Disponível em: <http://politicalcritique.org/long-read/2017/gender-as-symbolic-glue-how-gender-became-an-umbrella-term-for-the-rejection-of-the-neoliberal-order/>. Acesso em: 12 abr. 2020.

HADDAD, F. (2017) “Vivi na pele o que aprendi nos livros. Um encontro com o patrimonialismo brasileiro”. Piauí. Ed. 129, jun. 2017. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/materia/vivi-na-pele-o-que-aprendi-nos-livros/>. Acesso em: 17 jan. 2020.

KAYSEL, A. (2015) “Regressando ao Regresso: elementos para uma genealogia das direitas brasileiras”. In: CRUZ, S. V.; KAYSEL, A.; CODAS, G. (Org.). Direita, volver! O retorno da direita e o ciclo político brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.

LACERDA, M. B. (2018) Neoconservadorismo: articulação pró-família, punitivista e neoliberal na Câmara dos Deputados. Tese (Ciência Política). Instituto de Estudos Sociais e Políticos. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.

MACHADO, L. Z. (2017a) “O aborto como direito e o aborto como crime: o retrocesso neoconservador”. Cadernos Pagu, n. 50.

MACHADO, M. D. C. (2012) “Aborto e ativismo religioso nas eleições de 2010”. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 7, p. 25-54.

MACHADO, M. D. C. (2017b) “Pentecostais, sexualidade e família no Congresso Nacional”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 23, n. 47.

MACHADO, L. Z. (2016) “Feminismos brasileiros nas relações com o Estado. Contextos e incertezas”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 47.

MACHADO, M. D. C. (2018) “Religion and Moral Conservatism in Brazilian Politics”. Politics and Religion Journal, v. 12, n. 1.

MANTOVANI, D. (2014) Quem agenda a mídia? Um estudo de agenda-setting a partir da tematização do aborto nas eleições de 2010. Tese (Ciência Política). Instituto de Ciência Política. Universidade de Brasília. Brasília.

MARIANO, R.; HOFF, M.; DANTAS, T. Y. S. (2006) “Evangélicos sanguessugas, presidenciáveis e candidatos gaúchos: a disputa pelo voto dos grupos religiosos”. Debates do NER, n. 7, v. 10, p. 65-78.

MESSENBERG, D. (2017) “A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros”. Sociedade e Estado, v. 32, n. 3, p. 621-647.

MIGUEL, L. (2016) “Da ‘doutrinação marxista’ à ‘ideologia de gênero’ – Escola Sem Partido e as leis da mordaça no parlamento brasileiro”. Direito e Práxis, v. 07, n. 15, p. 590-621.

MIGUEL, L. F.; BIROLI, F. (2011) Caleidoscópio convexo: mulheres, política e mídia. São Paulo: Editora da Unesp.

MISKOLCI, R. (2007) “Pânicos morais e controle social – reflexões sobre o casamento gay”. Cadernos Pagu, n. 28, p. 101-128.

NASCIMENTO, L.; ALECRIM, M.; OLIVEIRA, J.; OLIVEIRA, M.; COSTA, S. (2018) “Não falo o que o povo quer, sou o que o povo quer”. Plural, n. 1, v. 25, p. 135-171.

OKIN, S. (1989) Justice, gender and the family. New York: Basic Books.

PATEMAN, C. (1989) The disorder of women. Stanford: Stanford University.

PETCHESKY, R. P. (1981) “Antifeminism, and the Rise of the New Right”. Feminism Studies, vol. 7, n. 2, p. 206-246.

PIERUCCI, A. F. (1987) “As bases da nova direita”. Novos Estudos, n. 19.

PRANDI, R.; SANTOS, R. W. (2017) “Quem tem medo da bancada evangélica? Posições sobre moralidade e política no eleitorado brasileiro, no Congresso Nacional e na Frente Parlamentar Evangélica”. Tempo Social, vol. 29, n. 2.

PRUDENCIO, K.; RIZZOTTO, C.; SAMPAIO, R. C. (2018) “A Normalização do Golpe: o esvaziamento da política na cobertura jornalística do ‘impeachment’ de Dilma Rousseff”. Contracampo, Niterói, v. 37, n. 02, p. 08-36.

RAMALHO, R.; MENDES, P. (2013) “Religiosos pedem veto a trecho de lei que permite 'profilaxia da gravidez'”. G1, 17 jul. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/07/religiosos-pedem-veto-trecho-de-lei-que-permite-profilaxia-da-gravidez.html>. Acesso em: 16 jan. 2020.

SANTOS, R. M. (2019) As disputas em torno das famílias na Câmara dos Deputados entre 2007 e 2018: familismo, conservadorismo e neoliberalismo. Tese (Ciência Política). Instituto de Ciência Política. Universidade de Brasília. Brasília.

SANTOS, W. G. (2017) A democracia impedida: o Brasil no século XXI. Rio de Janeiro: FGV Editora.

TEIXEIRA, R. P. (2019) “Ideologia de gênero”? As reações à agenda política de igualdade de gênero no Congresso Nacional. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Instituto de Ciência Política, UnB. Brasília.

VAGGIONE, J. M.; MACHADO, M. D. C. (2020) “Religious Patterns of Neoconservatism in Latin America”. Politics and Gender, v. 16.

VEJA (2019). TJ mantém condenação de Bolsonaro por resposta a Preta Gil e falas ao CQC. 10 maio 2019. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/politica/tj-mantem-condenacao-de-bolsonaro-por-resposta-a-preta-gil-e-falas-ao-cqc/>. Acesso em: 17 jan. 2020.

VITAL, C.; LOPES, P. V. L. (2013) Religião e Política: uma análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll/Instituto de Estudos da Religião (ISER).

Downloads

Publicado

2022-01-25

Como Citar

SANTOS, R. M. dos. A mobilização de questões de gênero e sexualidade e o fortalecimento da direita no Brasil. Revista Agenda Política, [S. l.], v. 8, n. 1, p. 50–77, 2022. DOI: 10.31990/agenda.2020.1.2. Disponível em: https://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/308. Acesso em: 2 maio. 2024.